quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Quem vai atirar o primeiro doce?


Imagem da Web
In: http://mylittlevintagewedding.blogspot.com/2010_07_01_archive.html

Tantas notícias e reportagens prenderam de alguma forma minha atenção nestes primeiros dois meses de 2012:  revolta no Egito, Chuvas em Minas e no Rio, prédios que desabam na Cidade Maravilhosa, ministros do Governo Dilma em queda livre... 
Pois, entre todas essas, mais uma veio apoquentar minha  cabeça, na qual já despontam os primeiros fios brancos:  "Açúcar faz tão mal à saúde quanto bebidas alcoólicas e cigarro"
Poxa! E eu que me vangloriava de não fumar ou beber! E agora? Será que, quando for advertir alguém sobre os prejuízos do cigarro à saúde vão jogar na minha cara que doce também mata?
Claro que eu vou argumentar em meu favor, embora o que eu escrevo aqui a respeito do assunto doces não seja nenhuma novidade.
Para minha defesa, vale aqui lembrar que a tradição mineira é recheada com muitos doces. Casa de bom mineiro sempre tem um agrado para as visitas, feito com esmero e carinho. Nossas festas são uma loucura gustativa, olfativa e visual e, além de oferecermos docinhos deliciosos durante as comemorações, mimamos nossos convivas com pratinhos cheios para levarem para casa  a fim de continuarem degustando depois.  Há quem diga, em tom de deboche, que isso é "sintoma de pobreza", ou seja, sair de uma festa carregando pratinhos. Mas eu digo: que pobreza feliz! Quisera eu que  todos os pobres desfrutassem desse gostinho!
Parece que não tem mesmo jeito: minha imaginação relaciona doce a festa e felicidade; não consigo evitar. Tive uma infância lambusada,  melada mesmo com rapadura,  doce de leite, doce de arroz (arroz doce), doce de mamão, goiabada, mingau de milho verde, canjica. Na rua da escola, encontrava nas "vendas" do bairro  a maria mole, quebra-queixo, suspiro, que a gente comia, mas não se saciava, pois em casa tinha porções generosas dos doces caseiros da mãe e da avó. 
Picolé, sorvete, chocolate e refrigerante ainda eram, na minha época, menos acessíveis. Como bebida se "açucarava"  uma limonada ou comprava Ki-suco de pacotinho, que mais tarde virou "suquinho", "chup-chup" e que ainda hoje adoçam e refrescam as boquinhas em muitas cidades do interior das Minas Gerais.
Hoje, tento me policiar e educar filhos e alunos para um maior controle do consumo de açúcar. Mas eis que me vem um aluno, num momento em que estou seriíssima, concentrada em uma anotação em sala de aula e:
-Professora, quer uma bala?
Essa aproximação me desmonta e me faz sorrir o mais doce dos sorrisos.

Açúcar faz tão mal à saúde quanto bebidas alcoólicas e cigarro
Consumo de açúcar triplicou em 50 anos e alimento mata 35 milhões por ano
São Francisco, EUA. Não é novidade que bebidas alcoólicas e cigarros sejam alvos de impostos. Mas, para pesquisadores norte-americanos, o açúcar também deve entrar para esta lista de produtos taxados, uma vez que o alimento é considerado igualmente tóxico e, assim, justificaria uma medida de controle para o consumo.
De acordo com artigo publicado no periódico científico "Nature" desta semana, os cientistas Robert Lustig, Laura Schmidt e Claire Brindis, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, alertam que o consumo de açúcar triplicou nos últimos 50 anos. Vale lembrar que a substância está presente em diversos alimentos e bebidas, como refrigerantes. Somente nos Estados Unidos, por exemplo, um cidadão consome em média 216 l por ano.
Além disso, o açúcar é responsável por 35 milhões de mortes por ano, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), uma vez que ele contribui para o desenvolvimento de doenças como diabetes e problemas de coração.
Considerando o elevado risco à saúde, os cientistas acreditam que as autoridades precisam agir para que a sociedade consiga reduzir a ingestão desses produtos. Além do aumento do imposto sobre os itens industrializados acrescidos de açúcar (como sucos, achocolatados e cereais), eles sugerem a limitação de vendas desses alimentos durante o horário escolar e em ambientes de trabalho. Outra ideia seria impor idade mínima de 17 anos para a compra dos alimentos açucarados.
Estima-se que o número de obesos seja 30% maior que o de desnutridos. Não apenas o açúcar, mas itens como gordura e sal têm contribuído para esse quadro.
Entretanto, para a nutricionista Michelle Alves, professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), não adianta impor taxas aos produtos se as pessoas não tiverem consciência sobre a saúde.
"Se a pessoa não tiver consciência de que o açúcar faz mal, ela vai comprar os produtos de qualquer maneira. O governo precisa falar sobre as consequências futuras do consumo de açúcar em excesso, que gera prejuízos à saúde", alerta.
Fonte: O Tempo  03/02/2012