terça-feira, 21 de abril de 2009

MEMORIAL DE LEITURA

 “O verdadeiro analfabeto é aquele que aprendeu a ler e não lê” Mário Quintana.
“Guimarães Rosa me disse uma coisa que jamais esquecerei, tão feliz me senti na hora: disse que me lia "não para a literatura, mas para a vida" Clarice Lispector.
“A leitura é para o intelecto o que o exercício é para o corpoJoseph Addison
Considero-me uma leitora bastante eclética. Tem sido assim não só com a leitura, mas também com a música. Acredito que isso se deve ao fato de ter vivenciado e convivido com culturas e gostos diversificados ao longo da minha vida, principalmente, na fase de letramento. A primeira pessoa com quem convivi e me influenciou bastante foi minha avó materna. Lembro-me de nós todos , crianças e adultos, sentados na varanda ou na cozinha ao redor de uma fogueirinha, ouvindo as histórias que ela contava. E como narrava! Ela colocava alma nos contos e nos prendia a atenção. Não havia eletricidade, mas não fazia falta nenhuma. Eu era mais uma das crianças felizes a brincar de roda nas tardes e a me encantar à noite com as peripécias, amores e aventuras dos personagens. Mas tinha pavor das histórias de assombração e fim do mundo que meu pai nos contava. E foi assim, em meio a uma família grande, vivendo numa mesma casa, pais, avós, tios, primos, que cresci. Foi meu pai quem me ensinou a ler e já na 1ª série eu lia com fluência. Estudávamos na escola a cartilha Lili, Lalau e o Lobo. Ganhei de imediato a admiração das professoras, que me colocavam para ler em todas as solenidades que aconteciam na escola. Era uma das poucas oportunidades em que conseguia espantar minha timidez e elevar a auto-estima. Marcou minha 1ª série o livrinho A Boneca Preta. No final desse ano passei para a 2ª série e ganhei meu primeiro livro literário. Parece que até hoje sinto o cheirinho dele: aquele cheiro de livro novo, uma capa desenhada, algo lindo como eu nunca tinha visto. Fiquei até tarde da noite inebriada com aquele livrinho nas mãos, a admirá-lo, cheirá-lo. Meus primeiros contatos com outros livros aconteceram por curiosidade, folheando os dos tios rapazes, que liam literatura de bolso, histórias de faroeste americano. Também com eles principiei a gostar das letras de músicas, que eu aprendia lendo as revistas com cifras musicais. A nossa casa era, então, muito musical e eu sempre me envolvia mais com a letra do que com a melodia. Prestava atenção em cada texto, cada história cantada nos versos, sempre que possível com uma das revistas nas mãos. Quando não havia mais nenhuma novidade, abria às escondidas os armários do meu pai para procurar coisas interessantes para ler. Com o passar dos anos, ele começou a trazer do trabalho(era funcionário público da Embrapa) livros e revistas, os quais eram devorados em poucos dias. E não interessava o assunto. Chegasse frente aos meus olhos era leitura. Na 5ª série eu sabia tudo sobre as matas de araucária, assunto que aprendi em dos que vieram da Embrapa. E apareciam alguns em espanhol e eu ficava igual a um papagaio lendo em voz alta aquelas palavras, sem entender o significado. Mas quem ouvisse pensaria eu que compreendia aquilo tudo. Até o livro da minha avó “As plantas curam” vivia constantemente em minhas mãos e eu sabia para que servia e como se usavam diversas ervas descritas no compêndio. Ainda na 5ª série ganhei meu 2º e 3º livros, respectivamente: “Os Segredos de Taquarapoca” e “O caso da Borboleta Atíria”. Desta vez estavam na lista de compras e meu pai os adquiriu. É interessante hoje observar que li muito e comprei pouquíssimos livros. Isso mostra que a falta de recursos financeiros não pode ser considerada como fator único responsável pelo pouco hábito de leitura, já que existem bibliotecas ótimas, disponibilizando seu acervo ao público sem restrições. Na biblioteca da escola fui sendo apresentada ou me convidando a conhecer os autores consagrados. Li quase todos os clássicos, aqueles livros imponentes de capa dura, letras douradas que me chamavam e eu obedecia, levando-os para casa como um tesouro que eu me orgulhava em possuir por uns poucos dias. No final do colégio me foi apresentada a literatura erótica: um colega ( hoje ele é padre!) me emprestou um livro, que andava de mão em mão e que li escondido, escandalizada pelas descobertas. Não me lembro o nome, mas alguns personagens, suas falas e ações ainda fazem parte das minhas lembranças. Concluído o ensino fundamental não prossegui nos estudos. Comecei logo a trabalhar, com o propósito de iniciar em outro ano o ensino médio. Mas dificuldades trabalhistas comprometeram esse objetivo. Meu foco de leitura agora era outro: eu lia Júlia e Sabrina aos montes, uma por dia, nem que virasse a noite até terminar. Tinha uma necessidade incontrolável de ler os tais contos. A adolescência não mudou minha timidez, ao contrário, fê-la aumentar. Mas ao lado dessa timidez, um lado romântico, um gostar de poesia aliado à leitura de contos rápidos e com elementos eróticos tornou-me uma sonhadora. Fui uma daquelas adolescentes que tinha caderno de pensamentos e poesia. Eu sonhava acordava. Trabalhava em uma fábrica de tecidos e, na minha função, precisava estar levando material em um carrinho de metalão. As laterais do “meu carrinho” eram cheias de versos, quadrinhas, pensamentos, que algumas pessoas, mais sensíveis, que mesmo num ambiente insalubre de uma fábrica sempre existiram, comentavam, gostavam, pediam cópia. Incomodada com meus novos hábitos de leitura, minha consciência crítica obrigou-me a rever meus conceitos de escolha literária e cheguei à conclusão de que não mais leria histórias que tinham um mesmo ingrediente, uma mesma fórmula: uma mulher apaixonada, bonita, um homem bonito, geralmente rico. No princípio ele não se simpatiza muito com ela, ou algum outro elemento não os une no princípio, mas com uma atração latente eles acabam ficando juntos no final. Concluído isso, acabou: deixei de ler Júlia, Sabrina e similares. Não conseguia dormir sem ler, tinha insônia e aos poucos fui voltando a ser a leitora de bons livros, com histórias, digamos, mais consistentes, os chamados best sellers: “Se houver amanhã” (Sidney Sheldom), “Os sonhos morrem primeiro”(Harold Hobbins) e outros desse autores. Mas ainda encontrei neles muito da velha fórmula mencionada anteriormente. Uma amiga me pediu par ajudá-la a escolher um livro para o namorado, pois ela não tinha ideia do que comprar. Escolhemos “Por quem os sinos dobram” de Ernest Hemingway. Esperei ansiosamente que o rapaz terminasse a leitura para me emprestar. Um livro grosso, seria o maior número de páginas lidas por mim. Amei a história e o tenho como um dos meus favoritos. Depois li “Os Miseráveis” numa versão condensada para escolares. Pronto! Eu voltava a ser a leitora de antes. Era ver alguém com um livro nas mãos ou falar bem sobre e logo já queria também. Ganhei aos 18 anos um livro de título “O maior presente do mundo”(Og Mandino). Acho que a pessoa que me ofertou não gostava muito de ler e passou tempos preocupada se havia me agradado. Quando descobri isso tratei de aliviá-la, pois havia, de verdade, gostado muito. No universo escolar, atuando como assistente de turno, pude entrar em contato com o universo do livro infantil. Eu que não conhecia histórias como “Chapeuzinho Amarelo” (Chico Buarque) me vi a contá-las com o maior entusiasmo. As crônicas fazem parte do meu hábito de leitura atual, não por serem curtas, mas pela crítica e humor que podemos captar em Fernando Sabino, Fernando Veríssimo, Rubem Alves, Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, Moacyr Scliar e tantos outros. Estou à espera de dois livros que me foram prometidos, do José Saramago e do Fernando Pessoa, no português lusitano. Já estou me deliciando antecipadamente com o prazer dessas leituras. Adoro ganhar livros! Se me perguntarem que características um livro deve conter para que eu goste, eu diria que gosto praticamente de tudo, desde que me prenda a atenção e seja original, não rememore demais outras coisas que eu tenha lido. Poesia? Adoro! De crônicas, já falei. Contos? Maravilha. Romance? Lindo. Literatura erótica? Por que não? Há muito o que descobrir. Autores novos e anônimos têm suas palavras gritando nas prateleiras pedindo para serem desvendadas, desveladas. Os clássicos nos avisam “ Ei, estou aqui, você ainda não me conhece, mas ainda tem tempo. Vamos nos apresentar?” A leitura é um importante instrumento de libertação na medida em que ela nos ajuda a tomar conhecimento de nós mesmos e do mundo, possibilitando-nos a formação de uma sociedade consciente de seus direitos e deveres. Claro que não são novidades essas considerações. Contudo, nós, professores, temos a responsabilidade de ser o exemplo vivo desse poder transformador. Somente assim , assumindo-nos primeiramente como bons leitores, poderemos levar nossos alunos a um maior interesse e envolvimento, sem medo da concorrência com os outros atrativos que constantemente são apontados como preferência dos jovens, fora e até mesmo dentro da escola. Cida dos Santos.

sábado, 4 de abril de 2009

Memórias de uma ex-analfabeta tecnológica

Hoje, ao ler o comentário da colega, no blog do GESTAR II, sobre a dificuldade em formatar o próprio blog, vieram-me à mente reminiscências de um passado nada distante.

A realidade é que nós, adultos(já antecipo à colega mencionada que talvez ela não tenha tido tantos problemas quanto eu, por ser bem mais jovem)...Mas voltando ao assunto...Acredito haver por parte de muitos adultos, não a resistência que bastante gente acredita, porém uma certa inibição frente à máquina e à tecnologia, um certo desconforto quando vemos que até as criancinhas lidam melhor com isso tudo do que nós.

Eu fiz dois cursos de informática. O primeiro há uns 15 ou 16 anos, quando o programa era um tal MS DOS. Depois, em 2005, fiz outro: rápido e caro, nem fez muita diferença no que eu sabia. Passaram-se os anos. Sem computador em casa e trabalhando em escolas não-informatizadas, esqueci tudo o que havia aprendido. Contudo, a iniciativa dos governos de informatizar as escolas evidenciava a necessidade de nós, professores, evoluirmos e utilizarmos o computador como uma ferramenta de trabalho. Mas não era assim tão fácil. Muitos de nós ainda não possuíamos o aparelho e, cheios de trabalho no recinto escolar, correndo de uma escola para outra, não sobrava tempo para aprender. Lembro-me que eu pagava pessoas para digitar textos, exercícios e provas, para fugir do hoje tão mal falado estêncil, mas... Na hora de imprimir, não conseguia sequer abrir o disquete e precisava ficar pedindo ajuda à secretária ou algum outro colega da escola que estivesse disponível. De certa forma era até humilhante. E quando era algum "fera", este explicava em 2 ou 3 palavras o que era para fazer. Eu balançava a cabeça confirmando que entendera, acreditava que era fácil, mas me perdia em alguma "má nota", como dizem os mineiros da minha terra, e dali a pouco estava lá na sala dos professores, com o bendito computador empacado, esperando aparecer outra pessoa para dar uma dica. Praticamente abolidos os disquetes vieram os cds e copiar, colar, gravar, drive, barra disso e daquilo continuavam me parecendo palavras de uma língua estranha e longíqua no futuro. Agora parece engraçado, mas não era.

E assim, mais um tempo se passou. Ouvir a turma falar em Internet, então, era humilhação total. Ficava caladinha no meu canto, só escutando. Logo eu, que falo pelos cotovelos. Precisava comprar o meu computador, com urgência! Só em 2006 consegui fazê-lo. E, claro, sem muitos conhecimentos, de início fiz muita confusão. Mas como muitas pessoas já haviam me falado: "você vai 'fuçando', pois é assim que se aprende"; sabem que realmente comecei a entender?

Primeiro, veio a segurança de estar na sala dos professores e trabalhar no pc com mais autonomia. Os pedidos de auxílio já não eram sobre coisas tão básicas, como formatar o texto ou mandar a impressora imprimir. Depois a conexão com a rede, o que me permitiu mais acesso a informações e pessoas. Nada simples demais, repito. Por várias vezes tive que contactar um técnico para resolver problemas, que depois fui aprendendo a decifrar.

Estou longe de ser uma expert quando o assunto é informática, mas vou tentando. No início, logo que adquiri o computador, ficava noites em claro até descobrir como resolver um problema, agora não chego a tanto. Leio bastante, pergunto a quem sabe, peço ajuda, sem o constrangimento de antes. Porém, poucas palavras já bastam e coloco em prática rapidamente o que me é ensinado.

Um grande abraço,

Cida dos Santos