segunda-feira, 6 de junho de 2011

Poesia Matemática

Dia dos namorados chegando e, inspirada por um professor blogueiro que postou um texto interessantíssimo seu  blog, cujo endereço é: http://matematicaximanga.blogspot.com/,  lembrei-me de um poema do qual gosto muito, que se chama Poesia Matemática, do Millôr Fernandes.
Pensando no cotidiano escolar, fato muito engraçado é como os alunos se admiram pelo fato de um professor de Matemática gostar de Língua Portuguesa, poesias, leituras e, por outro lado, um professor de Língua Portuguesa saber fazer cálculos ou se confessar, como eu, apaixonada pela Matemática e até um pouco frustrada por não poder me dedicar mais a ela.
Textos semelhantes ao que o professor colocou no blog e o poema do Millôr podem ajudar a quebrar a resistência, os tabus que ora os apaixonados por uma, ora por outra disciplina apresentam. Por que não gostar das duas? 

Poesia Matemática
Millôr Fernandes

Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas senoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.





Texto extraído do livro "Tempo e Contratempo", Edições O Cruzeiro - Rio de Janeiro, 1954, pág. sem número, publicado com o pseudônimo de Vão Gogo.





7 comentários:

  1. Olá Cida
    Realmente muito interessante. Não conhecia, adorei.
    Bjux

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  2. Amiga, Tu fazes muita falta à blogosfera. Não fuja de nós. Te amamos. Sem ti a vida inteligente não é a mesma. Fica conosco.
    Beijos e abraços.

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  3. * Bjux, Wanderley e Beijos e abraços, Sílvia. Prometo que dou um jeitinho de fugir em meio às minhas quase 50 aulas semanais para passear pela blogosfera. Beijos tb para você.

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  4. Um jogo de palavras matemático, inteligente e muito divertido.

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  5. Cida,real y fantástico o coctel matamáticas y poesia,como diz amiga Silvia la necesitamos en la biosfera,cuidese mucho de tanto trabajo,um gran abraço extensible á Família.

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  6. *Luís, Manuel...
    Amigos portugueses do blog, que como eu, amam e respeitam a última flor do Lácio. Obrigada pela visita.

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  7. Booooa, professora Cida! Que bom que retomou seus posts!

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